Em 2015 convertemos a produção de vinho através de métodos convencionais para métodos orgânicos. Desde então, tomámos diversas medidas para melhorar a biodiversidade e a sustentabilidade ambiental da nossa Quinta. Neste artigo damos a conhecer algumas das iniciativas que colocámos em prática para cultivar a harmonia nas nossa vinhas e em tudo o que nos rodeia.
Reflorestação para a biodiversidade
O nosso percurso rumo à sustentabilidade ambiental, centrou-se na ambiciosa tarefa de reflorestar uma monocultura de eucaliptos em 2021. Após a deflorestação de uma grande área de eucaliptos numa encosta íngreme virada a norte, removemos cuidadosamente as raízes, para evitar que a floresta voltasse a crescer. O eucalipto é notoriamente vigoroso e é tipicamente colhido a cada 9 ou mais anos, principalmente para a indústria do papel. Infelizmente, tal como acontece com a maioria das monoculturas, há pouca biodiversidade numa floresta deste tipo – os pássaros não podem nidificar em árvores com troncos longos e nus, e a copa inferior está restrita a ervas daninhas que podem crescer com pouca luz solar e um ph baixo.
Tomámos a decisão de plantar espécies arbóreas autóctones portuguesas, não só para realçar a beleza visual da nossa paisagem, mas também para promover o aumento da biodiversidade, quase como uma extensão da Tapada de Mafra, a reserva natural que delimita grande parte da nossa propriedade. Optámos assim por plantar 3500 árvores no muito húmido mês de janeiro de 2022. A diversificação das espécies arbóreas criou um ecossistema resiliente que beneficia todo o ambiente que nos rodeia. É difícil fornecer uma estatística exata, mas estimamos que esta reflorestação teve uma taxa de sucesso de cerca de 75%, o que nos deixa bastante satisfeitos. Estamos ansiosos por ver como a floresta irá crescer nas próximas décadas!
Expansão do reservatório de água
Os verões quentes e secos de Portugal representavam um desafio em termos de escassez de água para a Quinta. Em 1999, construímos um reservatório de água no meio de um vale na floresta, aproveitando ao máximo as suas características naturais, utilizando o solo para construir o muro da barragem, retendo a água da chuva nos meses de inverno para irrigação no verão. Os nossos jardins, plantações de árvores e flores têm muito mais hipóteses de prosperar no verão com a água da chuva que, de outra forma, teria ido parar ao mar.
O nosso compromisso com práticas conscientes de gestão da água respeita também tudo o que nos rodeia, refletindo a nossa dedicação e resiliência para com a sustentabilidade. No verão de 2022, expandimos a nossa capacidade de reserva de água, para garantir um abastecimento consistente para os nossos vários projetos agrícolas. Com relativamente pouca intervenção, construímos um segundo reservatório mais abaixo, aproveitando ao máximo uma “tigela” natural e praticamente duplicando a nossa capacidade – desde que chova o suficiente no inverno – e atuando como uma rede de segurança para o futuro. Agora podemos utilizar a água do reservatório inferior antes de termos de aceder ao superior, permitindo que o superior se desenvolva no seu próprio ecossistema de rãs, libélulas, peixes, lírios, cobras e patos. E, de vez em quando, para nos refrescarmos depois de um longo dia no campo! Esperemos que chova mais!
O nosso projeto de flores amigo das abelhas
O nosso projeto de flores biológicas vai muito além da estética: serve de santuário para as abelhas locais e outros insetos. A coleção diversificada de flores que selecionámos fornece pólen abundante, apoiando o bem-estar destes polinizadores essenciais. No entanto, a ameaça representada pela vespa asiática (Vespa Velutina) relembra-nos de que a proteção dos polinizadores está estreitamente associada com a preservação do delicado equilíbrio do ecossistema em geral.
Estamos a procurar ativamente apoio para proteger as colónias de abelhas e contribuir para a saúde do ambiente, e todos sabemos que a vida sem abelhas não é sustentável. Por isso, tentamos sensibilizar e colaborar com o público em geral: se alguma vez reparar numa colmeia de vespa asiática de forma oval (normalmente agarrada a um ramo ou tronco, no alto de uma copa), não se esqueça de telefonar ao seu município para que o extermine.
Enriquecimento do solo
O projeto de compostagem que iniciámos é uma espécie de diálogo com a terra, enriquecendo o solo com composto rico em nutrientes derivado dos resíduos orgânicos da nossa quinta. Introduzimos os restos verdes de cozinha da nossa própria casa, mas também da cozinha dos eventos, bem como as estacas de jardim e de vinha. A compostagem introduz matéria orgânica no solo, que se decompõe durante o processo e se transforma em húmus rico em nutrientes. Os principais nutrientes do composto são o azoto, o fósforo e o potássio. Estes contribuem para o crescimento das plantas e para a fertilidade geral do solo. Esta prática também aumenta a atividade microbiana, uma vez que as bactérias, os fungos e outros microrganismos desempenham um papel ativo no processo de compostagem, ajudando o ciclo de nutrientes e a supressão de doenças. Os efeitos mais visíveis do composto incluem uma melhor retenção de água (atuando como uma esponja) e uma melhor estrutura do solo, permitindo uma melhor penetração e arejamento das raízes. É espantoso como este “ouro do jardineiro” tem beneficiado visivelmente a saúde da nossa Quinta!
O envolvimento das ovelhas na manutenção da erva e na fertilização do solo contribui para uma abordagem sustentável da gestão das terras. Como pastores naturais, o nosso rebanho de ovelhas Suffolk ajuda a controlar a vegetação indesejada na vinha. Isto reduz a nossa dependência de meios mecânicos ou químicos para a gestão das ervas daninhas e promove uma abordagem mais respeitadora do ambiente, contribuindo simultaneamente para a fertilidade do solo através dos seus excrementos.
Por último, as atividades de pastoreio criam micro ambientes diversificados para insetos e pequenos animais, o que tem um impacto positivo na flora e fauna locais. Por último, e não menos importante, as nossas galinhas também desempenham um papel inestimável na gestão de pragas e na fertilização da área por onde andam. O desafio é mantê-las longe dos jardins!
Transição orgânica e qualidade dos vinhos
Em 2015, demos um passo significativo em direção à sustentabilidade ao fazer a transição de métodos convencionais para métodos orgânicos de produção de vinho. Esta mudança não foi apenas sobre as nossas vinhas; foi um compromisso com a saúde da terra e a qualidade dos vinhos que produzimos. A adoção de práticas orgânicas não só melhorou a biodiversidade da nossa Quinta, como também resultou em vinhos mais ricos, com características distintas e expressão varietal. A transformação testemunhada nas nossas vinhas teve um efeito de onda positivo no ambiente em geral.
À medida que o compromisso da Quinta de Sant’Ana com a sustentabilidade ambiental continua a evoluir, lembramo-nos de que cada pequeno esforço contribui para um impacto maior. Tal como uma vinha deve ser vista através da lente de um jardineiro – onde o jardineiro pode identificar os pontos mais fortes e mais fracos do jardim que levam a um efeito sobre a qualidade e a produção – fazemos o nosso melhor para replicar isto não só nas hortas, campos de flores, vinhas e árvores de fruto, mas também nos esforçamos para criar uma floresta mais diversa e resiliente.
Convidamo-lo a juntar-se a nós nesta viagem rumo à sustentabilidade, onde cada colheita de uva conta a história do ambiente que a rodeia. Se a qualidade dos nossos vinhos melhorou de facto ao longo do tempo, à medida que avançamos nesta viagem biológica, porque não experimentá-los só para ter a certeza?